Passeio Matinal

Neste Inverno despido, onde passeio sem outro propósito ou intenção, aprecio a arte que a natureza da forma mais pura nos presenteia. Admiro as árvores na sua forma simples, desnudadas de preconceito, onde a arte se redesenha a cada estação, a cada momento, em cada sentimento. Contemplo-as com assombro e é nesta aparência fria que invado o seu íntimo de forma sobrenatural. Paro! Escuto! Invado uma dimensão alheia ao que me é usual. Revejo-me agora em todas as suas linhas. Sinto-me, agora, no pulsar da sua seiva, onde frágeis ramificações me indicam percursos casuais da vida, caminhos por vezes incertos num único destino. São vida, espíritos que nos guiam de forma silenciosa mas vital à nossa insignificante subsistência. Nesta estação despem as vestes sinuosas que as fazem bailar sob uma melodia secreta soprada por um Deus invisível, mas não indiferente. Invado o seu íntimo e deixo-me levar pelo seu tão natural encantamento, feitiço que se cruzou no meu caminho e revejo… mais uma vez, na sua altivez a minha pequenez.

Prosa de Maria dos Santos Alves

Fotografia de Maria dos Santos Alves